Meu relato de parto II – Rafael

Meu relato de parto II – Rafael

Após relembrar um dos dias mais especiais da minha vida, ao relatar o parto do Miguel, chegou a vez de falar sobre outro momento inesquecível: o parto do meu outro anjinho, o Rafael. Ficamos sabendo da gravidez do Rafa uma semana após o Miguel ter feito 1 ano.

Estávamos em uma fase de muito agradecimento, de muita alegria por ter vivido tão intensamente os 12 meses de vida do Miguel. Foi uma surpresa e felicidade imensas saber que teríamos outro filho lindo para cuidar e amar. Não vou mentir que fiquei com um pouco de medo pela pequena diferença (1 ano e 9 meses!). Aqueles palpiteiros, lembram? Ganharam a companhia de novos que engrossaram o coro com as perguntas e afirmações: “Nossa! Já? Vocês queriam?”, “Vão ter de trabalhar muito para comprar fraldas!”, “Tadinho do Miguel” (o vírus do tadinho volta a atacar). E quer saber? Dessa vez nem perdi tempo em responder…Que mania é essa que as pessoas têm de palpitar?

A questão nunca foi “é cedo ou tarde” ou “Miguel ainda é um bebê ou não”. O fato é que fomos escolhidos por Deus para abraçarmos mais um lindo neném. Foi confiada a nós mais uma vida! Ao invés de pensar que não estávamos preparados, foi muito mais fácil constatar que nosso coração era tão cheio de amor que ficou grande demais para um filho só! =)

familia
Nós quatro! Foto: Marcus Câmara

Essa maturidade como pais nos fez encarar a segunda gestação com mais tranquilidade, menos temores e muita entrega. Algumas coisas fiz do mesmo jeito, mas muitos pontos do percurso foram diferentes. Aprendi muito mas, dessa vez, menos com textos de internet ou livros e mais com pessoas. Várias surpresas apareceram nesse caminho.

Na gestação do Rafael, reencontrei uma amiga: a agora super fisioterapeuta e doula Gisele Fadel. Aos 13, 14 anos, treinávamos juntas na mesma equipe de natação. O tempo passou e nunca mais tínhamos nos visto. A vida deu um jeito que nos reencontrássemos por meio de outras amigas. Gisele foi e ainda é um suporte e tanto. Como minha vida com um filho já estava bem diferente (montei empresa, não tinha horários fixos de trabalho), não fiz o programa de atividades para gestantes como na primeira gravidez. Senti muita falta, principalmente da hidroginástica (não consigo viver fora d’água), porém, Gisele com mil e uma atividades me fazia rebolar na bola de pilates um milhão de vezes, fortalecer o corpo, afinal, duas gestações quase seguidas pesam. E ela  ainda aliviava as minhas dores com as sempre desejadas drenagens!

Gisele Fadel
Gisele Fadel. Foto: Arquivo Pessoal

Durante a preparação, meu maior receio era o de não conseguir entrar no hospital andando. Não queria que a sensação de não ter controle das minhas pernas se repetisse. A dor na lombar da primeira gestação voltou com força na segunda. Apelei para a acupuntura! Fui parar no consultório da Érica de Paula. Quando a vi pela primeira vez, nem imaginava que ela era a co-autora do filme Renascimento do Parto – filme que deu uma reviravolta no pensamento de muitos sobre os nascimentos no Brasil. Só fui descobrir de fato “a fama” dela quando pesquisei no Google (tenho a mania de pesquisar tudo sobre os profissionais que me atendem ou atendem meus filhos! Coisa de jornalista! Sempre a postos para uma apuração!). Vocês acham que isso mudou meu pensamento? Não. Não naquele momento.

Na primeira consulta com a Érica, queria apenas que ela aliviasse minhas dores por meio das agulhas da acupuntura. Nas sessões seguintes que trocamos algumas ideias. Tanto para ela, quanto para Gisele, externei meu desejo de experimentar um novo parto. Nunca sonhei com parto em casa, parto na banheira, nada disso, apesar de achar sensacional! Eu só desejava entrar no hospital andando e pronta para um parto com o mínimo de intervenções possíveis. Além das conversas e apoio das meninas, conversei muito com meu médico. Como sempre, ele me mostrava que era possível, mas que quem me sinalizaria isso seria o próprio Rafael.

Juntando as conversas com esses três profissionais e um pouco de leitura sobre partos humanizados, tirei o que de melhor se adequava ao que eu sonhava para esse parto. Queria um parto no hospital e com dor! Sim, você leu certo! Se fosse para sentir dor, sentir meu filho na hora do parto, eu topava. Nada de analgesia dessa vez. E para tal coragem, rezava todos os dias para aguentar firme.

Uma coisa que aprendi com as duas gestações é que de fato o bebê, mesmo dentro da barriga, já tem uma sintonia incrível com a mãe. Eu sempre conversei com os dois. Fazia combinados. Falava de como nossa vida era do lado de fora. Entrei em trabalho de parto na época do Miguel após uma conversa com ele. Eu já estava muito ansiosa. Ele me ajudou. Me tranquilizou e deu sinais de que queria nascer. Como já tinha dado certo uma vez, repeti com o Rafael e deu certo! Nessa segunda gestação estava mega cansada. Engordei 10kg (dois quilos a mais do que na primeira), mas eu carreguei Miguel no colo até a última semana. Então, esse peso extra dobrava. Inchei demais, comia mais, dormia menos. Estava tranquila, mas confesso que quando completamos 38 semanas, bati aquele papo! Falei com Rafael que ele era especial, super aguardado e perguntei se ele estava preparado para sair, porque a mamãe estava super pronta!

esperando Rafael
Foto: Marcus Câmara

Três dias depois, em uma quinta-feira (7 de outubro), Rafael deu a resposta. Lembro que trabalhei nesse dia até às 23h. Estava deixando tudo encaminhado na minha empresa para poder me dedicar aos pequenos. Quando deitei, à meia noite e vinte, a bolsa estourou! Rafael estava preparado e já chegou me oferecendo uma experiência nova. O que fazer quando a bolsa rompe? Eu não tinha lido sobre isso (doce ilusão de que as coisas seriam como no primeiro parto. hehehe).

Liguei para o Dr.Nilson, que me pediu que avisasse quando começassem as contrações. Mesmo combinado de antes. Quando os intervalos fossem diminuindo, hora de ir pro hospital. Liguei pra Gisele e naquele momento as dores já estavam começando. Avisei a família! Meus pais e minha irmã tinham acabado de se deitar. Todos comemorando uma conquista da família. Minha mãe não acreditou que teria de se levantar logo naquele momento que a cama estava ficando quentinha!

Enquanto esperava meu pai e minha irmã em casa para ficar com Miguel, aproveitei para me arrumar. Quem disse que grávida em trabalho de parto não pode se arrumar, se perfumar e se maquiar? Fui linda para o hospital! =). Tomei banho, sabendo claramente que me relaxaria e poderia acelerar as contrações. E foi o que aconteceu. Às 2h, finalmente, com tudo arrumado, eu e meu marido saímos de casa. As dores estavam suportáveis. Estávamos transbordando felicidade. A sensação de que tudo estava tomando o rumo que tinha planejado e me preparado me fez me sentir ainda mais forte. Nesse momento, a palavra empoderamento fez todo o sentido. Me empoderei com força, com confiança, com amor, com decisão.

Para esse parto, havia resolvido mudar de hospital e “testar” um novo. Cheguei, desci andando e ao chegar na recepção fui negada. Segundo o funcionário, não havia vaga e a obstetra de plantão estava em procedimento e não poderia me atender (esse é o nosso sistema de saúde, cheio de compaixão e atenção. Só que não.), mesmo eu dizendo que já tinha um obstetra a caminho. Não perdemos tempo e fomos novamente para o Hospital Santa Luzia, aqui em Brasília. Mais uma vez, super bem atendidos. Também não havia vaga, mas eles criaram uma. Viram que em pouco tempo, Rafael nasceria. Só que ninguém imaginava, nem eu mesma, que na minha calma e tolerância à dor, meu caçulinha resolveria tudo tão rápido.

Gisele chegou ao hospital junto com minha família e meu médico. Ela já repassava comigo o que iríamos fazer, aliviava minha lombar com pequenas massagens e eu só respirava a fim de aliviar uma ânsia de vômito sem tamanho. Entre papeis e burocracias, Dr. Nilson resolveu deixar minha mãe resolvendo tudo e subimos para o quarto para que eu pudesse me preparar. Fui andando! \o/

Cheguei e falei para todos que antes de qualquer coisa, só precisava fazer xixi. Sentei no vaso e ops! Eu fiz o que tinha de fazer mas meu corpo queria expulsar muito mais que um simples xixi. Gritei Gisele. Ela me tirou do banheiro, me colocou na cama e chamou meu médico. E nem precisou de toque (para os que leram o meu primeiro depoimento, na média, um parto compensou o outro! hehehe). Rafa já estava coroando. E ali mesmo, na cama do quarto. As enfermeiras, coitadas, nem sabiam o que fazer ou para onde ir. Estavam igual a baratas tontas.

parto Rafael
Foto: Arquivo Pessoal

A partolândia nem chegou a tomar conta de mim. Eu só tinha vontade de fazer força, Rafael só tinha vontade de nascer. Não senti muita dor. Foi lindo. Foi sublime. Senti cada pedacinho dele saindo de mim. O peguei no colo, a emoção tomou conta. O mundo parou naquele momento. Eu e meu guerreirinho. Conseguimos! Não teve tempo de massagem, de bola, de troca de roupa, de centro obstétrico. E Dr.Nilson falou: “Aqui está. Rafael nasceu e tudo foi como você queria. Parabéns!”. Me senti feliz, me senti respeitada, me senti forte, me senti mais mãe. Agradeci Rafael por ter confiado em mim, antes mesmo de me ver fora da barriga. Agradeci por ele ter colaborado com o que eu havia desejado para nós.

Nesse processo todo até a chegada do parto, uma pessoa também foi protagonista nesse dia: meu marido. Ele embarcou nas minhas ideias, leu os textos que eu o enviava e ouvia atentamente meus relatos sobre as conversas com a Érica e com a Gisele. Ele me apoiou em todos os momentos, principalmente no momento que decidi que queria um parto mais simples. Até hoje, acho que ele também não consegue entender como uma pessoa opta pela dor ao invés de aceitar uma analgesia, mas ele também me respeitou. Na hora do parto, era ele quem me dizia ao pé do ouvido as palavras mais lindas. Não me esquecerei nunca dele, emocionado, dizendo: “Ele está chegando, amor!”, “Vocês vão conseguir”. São frases simples, se soltas. Contudo, naquele momento, meu parceiro de vida, de sacramento, de missão, me abraçou e pariu nosso filho comigo. Consigo sentir no momento desse relato o calor do corpo dele me abraçando.

marido
O pai atuante! Foto: Arquivo Pessoal

Rafael nasceu super bem, às 3h da manhã (demos entrada no quarto às 2h54, como consta no documento assinado), ficamos juntos por muito tempo já que não estávamos no centro obstétrico e nem mesmo a pediatra tinha chegado. Ofereci o peito, mas Rafa não quis mamar. Ele havia feito muito esforço, se aconchegou no meu colo e dormiu. Como não havia estrutura no quarto para os pontos (não teve episiotomia, mas teve laceração. Minha sensação é de que deu na mesma, exceto o fato de não ter tido intervenções do médico) e para o parto da placenta, fomos para o centro obstétrico. Como as contrações já tinham cessado, tive de voltar a sentir tudo de novo e parir novamente. A placenta demorou mais tempo para sair do que o próprio Rafael.

Às 8 da manhã do dia 8 de outubro, lá estava eu na porta do banheiro, louca para tomar banho! Fiquei um dia no hospital e fomos para casa. Nós dois super saudáveis. Saimos do hospital e abracei Miguel, o primogênito. A saudade era enorme e estava ansiosa para ele conhecer o irmão, que até hoje é carinhosamente chamado de “Afa” (mas esse é um tema para um próximo post).

Lições aprendidas dessa gestação:

1) Você é capaz. Só basta acreditar e se preparar corretamente

2) Só ouça os palpites de quem você conhece e confia. Às vezes você vai ouvir o que não quer. Não esmoreça. Apenas ignore. A maioria das pessoas que te conhece, quer o melhor para você e para o bebê.

3) Converse com o bebê. Ele te ouve, te entende e te ajuda.

4) Não se cobre tanto. Aproveite o momento. Passa tudo muito rápido

E para finalizar, uma resposta a uma pergunta que vira e mexe me fazem: “Mesmo dando tudo certo para o seu parto natural, você estava preparada para uma cesárea, caso fosse necessária?”

R: Não! Eu nunca considerei que isso pudesse acontecer. Estava tão certa de que tudo aconteceria conforme combinado com Rafael, estava tão feliz e segura, que não deixei que essa preocupação tivesse espaço na minha cabeça. Tudo me dava indicações de sucesso para um parto vaginal. Rafael me fazia sentir que seria assim como queríamos e foi!

Acredito, de verdade, que parto é 70% psicológico e 30% fisiológico. A nossa mente nos move. Nossa força de vontade faz maravilhas.

Assim termina a minha série de relatos de parto. Foi uma delícia relembrar cada detalhe e para as mamães que precisarem de apoio, de palavras de incentivo, estou aqui! Obrigada a todos que me ajudaram a realizar mais um sonho.

familia pos parto
Família completa, dois dias após o parto. Foto: Arquivo Pessoal

Andrea Lopes

Jornalista, especializada em comunicação digital. Mãe do Miguel, nascido em janeiro de 2013 e do Rafael, nascido em outubro de 2014. Apaixonada pelo mundo materno-infantil.

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  1. Fernanda Polsin

    10 de março de 2015 at 22:09

    Lindo, amiga!!! Você é um exemplo de força, de coragem, de determinação!!! Fiquei super emocionada ao relembrar o parto dos seus gostosuros!!

    • Andrea Lopes

      12 de março de 2015 at 21:25

      Obrigada! =)

  2. Susana

    30 de março de 2015 at 14:29

    Lindos relatos… Emocionante. Parabéns pela força e determinação. Beijos

  3. Cinthia

    28 de maio de 2019 at 9:50

    Olá, Andreia! Muito bom ler o seu relato. Estou ainda no comecinho da gravidez e me preparando para um parto natural. Estou na fase de escolha do médico e vi que você foi acompanhada pelo Dr. Nilson. É o Dr. Nilson Oliveira? Tenho consulta marcada com ele, mas gostaria de saber de antemão se ele faz o parto humanizado.
    Obrigada!

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