A difícil arte de amamentar

A difícil arte de amamentar

Toda mulher já se emocionou ao ver em um filme ou novela uma mãe linda, arrumada, sorridente com o bebê no colo oferecendo o peito, os dois se olham; o bebê pega no peito da mãe e ela toda orgulhosa dá aquele sorriso de felicidade. Lindo, um sonho! Foi baseada nessas cenas fortes e marcantes que minha realidade começa… Cresci vendo campanhas de aleitamento materno, onde o discurso sempre foi: “Amamente seu filho até dois anos de idade, é fácil, prático e natural!” Fácil, prático?! A imagem que sempre guardei foi da atriz Betty Gofman amamentando suas duas filhas (gêmeas). Seria fácil, afinal de contas, somos mulheres, automaticamente já somos programadas para ter filhos e amamentar, por isso, quando descobri que estava grávida procurei ler sobre tudo: como ocorria a fecundação, quais as melhores opções de partos, a melhor forma de dormir com o barrigão, sobre diabetes gestacional, como dar banho, como enrolar o bebê para dormir, enfim, tudo o que uma mãe de primeira viagem faz. Porém, não li absolutamente nada sobre amamentação, porque isso seria “fácil, prático e natural”.

Foto: Internet
Foto: Internet

Minha pequena nasceu saudável, em uma sexta-feira, com 47 cm e 3 quilos, inchadinha, cabeludinha e aos meus olhos o bebê mais lindo do mundo. Saí da sala de cirurgia e logo já a colocaram no peito para aprender a sugar e como disse a enfermeira: “Mãe, ela já está sugando”. No auge da melhor sensação do mundo, não prestei muito atenção no que ela disse, só queria cheirar e olhar a minha obra-prima. No dia seguinte, a realidade estava acontecendo, banho, troca de fralda, troca de roupa, cheirinho de bebê e mamada, muita mamada. Estava tão feliz e realizada que não me importei de ficar quase um dia a mais no hospital por conta da “Cefaleia Pós Raqui” e tomar mais 5 litros de soro. Saí do hospital na noite de domingo e meu leite já tinha descido, sentia muito orgulho e pensava: “tenho muito leite, posso até doar” e doei, doei muito. Esse é o ponto que mais me conforta!

Na segunda-feira, tive calafrios, febre, meu peito doía muito e minha pequena não passava mais de cinco minutos no meu peito e mesmo assim reclamava muito. Eu achava que era cólica, achava que ela estava mamando direitinho. Na terça-feira, meu marido me levou ao banco de leite para que as enfermeiras me ensinassem a fazer ordenha, pois queria doar meu leite que era muito, muito mesmo. Chegando lá, a enfermeira disse que minha filha havia perdido peso, mas que era normal para o tempo que ela tinha; me ensinou a fazer massagem para a mama ficar macia, tinha de tirar um pouco de leite antes de oferecer o leite a minha filha, já que minha produção era muita e ela não estava dando conta sozinha e disse também que meu peito estava quase empedrando, pediu que eu voltasse no dia seguinte para acompanhar. Naquele momento, percebi que tinha alguma coisa errada, passei o dia pensando, fiz as ordenhas, doeu muito, colocava minha pequena no peito para mamar e ela não passava de 10 minutos. Na madrugada, acordava de três em três horas, mas eu, meu marido e minha mãe acordávamos uma hora antes para massagem e para a ordenha, em resumo, dormíamos apenas 4 horas por dia. No dia seguinte, amanheci sem vontade de ir, uma tristeza enorme, uma vontade incontrolável de chorar que quase desisti, mas meu marido insistiu.

Quando cheguei, a surpresa. Minha filha não tinha ganho nem um grama, ao contrário, havia perdido muito peso. Na hora, meu chão abriu e naquele momento senti uma tristeza tão profunda que se minha filha estivesse em meus braços não sei se teria forças para segurar. Comecei a chorar desesperadamente e não conseguia parar, meu marido e a enfermeira tentaram me acalmar, mas nada que eles diziam fazia sentido (era a depressão pós-parto já dando seus sinais). Só olhava para minha filha e pensava “Que tipo de mãe vou ser para você, se nem amamentar eu consigo?”. Nem lembro o que a enfermeira disse porque a única coisa que queria era ir para casa e chorar muito. No dia seguinte, tivemos a primeira consulta com o pediatra e, ao pesar minha pequena, a mesma noticia: ela vinha perdendo peso. O médico pediu para insistir com o peito e eu aceitei porque NUNCA passou pela minha cabeça dar mamadeira, nem sabia qual marcar comprar e só lembrava das maravilhosas campanhas da TV onde o aleitamento materno ajudava no vinculo de mãe e filha, que os bebês que são alimentados com leite materno exclusivo até os seis meses não ficam doentes….Minha filha passava o dia no peito e dormia. Todos achavam que ela já estava mamando porque dormia bem e quase não chorava, mas eu percebia que ela estava magrinha e passei a chorar escondida porque sempre que perguntava a alguém, todos diziam: “Ela está engordando”. Na semana seguinte, voltei ao pediatra e ela não tinha ganho peso, mas perdeu menos que na primeira semana. Todos se animaram, mas eu não conseguia sorrir, aliás, só chorava. Por insistência minha, meu marido marcou outro pediatra, pediatra não, um anjo! Chegamos ao consultório e meu marido foi tirar a roupa da bebê para pesar, assim que o pediatra chegou perto disse: “Seu peito está enchendo? Essa menina está passando fome”. Bah, foi um tapa na minha cara. Para qualquer outra mãe, isso seria um absurdo de se falar mas, naquele momento, foi a coisa mais sensata que alguém tinha me falado, depois de 15 dias ouvir o que ninguém tinha coragem de me falar e era o que precisava ouvir. Claro, comecei a chorar desesperadamente mas, ao mesmo tempo, estava aliviada porque no fundo ouvi o que queria ouvir.

Sai de lá com a receita da fórmula e o dever de amamentar na colher ou no copo, de duas em duas horas (inclusive de madrugada), antes de oferecer o peito. Tentei, juro que tentei, todas as técnicas possíveis: colher, sonda, copinho, dedo, tudo, mas a única coisa que minha filha fazia era engasgar e eu chorar! Foi quando no terceiro dia de tentativa, no auge do meu desespero, joguei a sonda longe e gritei para minha mãe: “Me ajuda! Me dá uma mamadeira, por favor, e fica do meu lado”. Foi a frase mais difícil que já falei nos meus 30 anos de vida, minha mãe chegou com a mamadeira e antes de dar para minha pequena falei: “Desculpa, não era isso que a mamãe queria para você”. Todos choraram com a cena e a primeira mamadeira que a Lala tomou foi um misto de sentimentos, culpa, e alívio por ver minha pequena aceitar de primeira e sugar satisfeitíssima que até derramava pelo canto da boca. Passei a fazer isso; primeiro o peito e depois a mamadeira mas, claro, com a depressão pós-parto, meu leite foi secando e automaticamente o meu peito passou a ser um complemento e não a fórmula. Uma semana depois, voltei ao pediatra e minha pequena tinha engordado 500 gramas! isso mesmo! Ela recuperou tudo em uma semana! E eu fui liberada de ter que acordar de madrugada de duas em duas horas para amamentar, passou a ser livre demanda. No final desses 20 dias, Lala engordou muito e eu perdi 10 quilos.

Acho legal e super importantes as campanhas sobre amamentação e ainda acho que aleitamento materno deve ser a prioridade para o bebê mas, acho que falta informação do tipo “Não é fácil, você não é a única mamãe a ter dificuldades”, porque eu sentia que era a única que não tinha conseguido, duvidei várias vezes da minha capacidade materna, evitava sair de casa porque não queria dar mamadeira na frente de outras pessoas.
Lala, hoje, está com 9 meses e, como disse a pediatra, super saudável, come de tudo, só ficou doente uma vez, dorme a noite toda desde os três meses, é risonha, simpática e, principalmente, grudada em mim! Essa semana falou “mamamama” quando sai do quarto, ou seja, ela me chama, ela me ama, rs rs rs rs!

Depois de tudo isso que passei, sempre que vejo uma mãezinha passando por algo parecido converso e demonstro a ela que isso é normal. Aleitamento materno não é tão simples e que ela não está sozinha nessa luta. O que aprendi com isso? Abri mais a minha mente. No meu próximo filho, não vou sofrer tanto se não conseguir, passei a me cobrar menos como mãe, a confiar no meu instinto materno e, principalmente, descobri que posso criar vínculos com minha filha de outro jeito.

 

1 comentário, comentários

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  1. Adriana

    28 de agosto de 2013 at 10:48

    Linda história, Taty…me emocionei de novo, acho que sempre que ouvir ou ler sobre ela ficarei emocionada. Parabéns mãezona, não tenha duvida o quão és mãe. Vc é uma guerreira e Lala sabe bem disso. Bjs.

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