A chegada do Tomé | Relato de parto

A chegada do Tomé | Relato de parto

Olá!

A partir de agora compartilharei com vocês aqui, no Mamãe na Rede, algumas experiências da minha jornada de mãe. Mãe de primeira. Nem digo “primeira viagem” porque o termo “viagem” me lembra férias, algo que tem volta. E se você é mãe ou pai, sabe que este caminho não tem retorno. O nome do meu rebento é Tomé. Sim, Tomé, aquele que creu. Tenho 29 anos, sou esposa do Camilo, leiga consagrada na Comunidade Católica Shalom, jornalista, apaixonada pela maternidade, por creme de avelã e peixe cru.

Relato de Parto
Narlla e família

Começo com o dia 22 de outubro de 2014. Dia em que o vi, sem recursos tecnológicos, pela primeira vez.

Eis o meu relato de parto.

Quis começar este relato falando que desejamos muito este filho. Quando nos preparávamos para o casamento, o assunto “filhos” entrou em pauta e surgiu o sadio questionamento: Quando?

Ao ler “O Amor que dá vida”, de Kimberly Hahn, entrei em parafuso. Descobri que eu não estava assim tão aberta à vida. No noivado, documentos da Igreja, encíclicas e a maravilhosa Teologia do Corpo nos cercaram por todos os lados. Não havia ali naquele tesouro a perspectiva de adiar filhos, mas de “espaçá-los”. E eu queria adiar. Por outro lado, passou a me incomodar profundamente que o conselho mais frequente que recebíamos antes do casamento era esperar para engravidar. Curtir o casamento antes. Era compreensível, mas não era para nós.

Nos casamos e em mim não estava reconciliada a dimensão de que estar pronta para casar significa estar pronta para ser mãe. Biológica e espiritualmente falando. Eu tinha medo e, naturalmente, como estavam os discípulos depois da morte de Jesus, tranquei as portas do meu coração. Não confiei que Deus daria para nós a felicidade traduzida na dinâmica de sua providência.

O Senhor quis me conquistar na liberdade. E eu também desejava assim. Escolheu, então, o amor e a confiança no meu marido e na relação que começávamos a construir a partir do nosso encontro conjugal, da celebração efetiva do nosso matrimônio. Esse meu fechamento não durou muito. Acredito que um ou dois meses, no máximo. O ato conjugal passou a ser orientado para a vida em sua plenitude.

Neste caminho, foram oito meses de expectativa até que a menstruação atrasou. Um caminho de libertação. Deu positivo! Para nós, foi como o retorno de Jesus naquela ocasião em que faltava visitar alguém. Faltava visitar o apóstolo Tomé. Faltava visitar a Narlla e o Camilo. Nosso bebê foi concebido em um ato de amor e entrega no dia 30 de janeiro de 2014.

Foram meses de descobertas e lutas, de repouso e também constantes súbitos de energia. Eu vi minha barriga crescer, vi meu marido se tornar pai e eu, mãe. Me vi 17kg mais gorda!

A decisão por um parto humanizado tomou conta de nós quando assistimos ao documentário O Renascimento do Parto. Isso aconteceu antes da gravidez. Acho que foi assim com muita gente! Rs. Impossível sair daquela experiência de filme com o mesmo pensamento.

Estudamos muito! Frequentávamos rodas de partilha, acolhíamos as experiências de outros casais, descobrimos a figura da doula e mais: seria praticamente impossível encontrar um ginecologista do plano que topasse do jeito que a gente estava pensando. Entramos em um mundo bem diferente do que estamos acostumados. Era meu desejo parir por amor ao meu filho. Ao mesmo tempo, conheci um movimento marcado profundamente por ideologias feministas e suas sutilezas. Decidimos filtrar e deixar nossa marca nesse meio da humanização do parto. Nossa marca consagrada a Deus. Não foi fácil, mas foi maravilhoso.

No dia 21 de outubro, à noite, senti vontade de ligar para amigas que eu não falava há tempos. Naquele dia quis sair de casa, ver gente, caminhar, andar numa feira. Assim o fiz. O dia foi terminando e foi dando vontade de me recolher, eu realmente andei muito e estava cansada. Camilo foi a uma reunião e eu fiquei só. Foi ótimo. Retomei a leitura de um romance da Jane Austen, preparei o lanche para quando ele chegasse e quis ligar para amigas que não via há tempos.

Fomos dormir. Era dia de vigília para o Camilo. Lá no fundo eu não queria que ele fosse. Também não sei exatamente o porquê, a verdade é que eu o queria comigo 24h por dia há algumas semanas. (Rs)

Fisicamente, apenas leves (levíssimas) cólicas que me acompanhavam há duas semanas. E as braxton hicks. Nada novo. Meu corpo dizia que Tomé estava chegando, mas eu não pensei que seria tão logo.

Fiz planos para o dia seguinte. Ir ao mercado, ver pessoas, me manter em movimento, em atividade. Era dia de fisioterapia, também. Sempre que possível, agachar, treinar o períneo. Caminhar, conseguir uma piscina, afinal o calor que fazia em Brasília era de lascar. E muito afeto!

Eu já pensava: meu Deus, que dia vai ser? Tenho medo de não conseguir. Medo de não fazer Tua Vontade.

E por mais que eu buscasse em mim algum compromisso com as pessoas que sabiam do nosso desejo de um parto digno, não me prendi a isso. Meu compromisso era com o meu filho e com o plano de Deus para a nossa família.

Nos preparamos (se é que tem como) para que desse tudo errado também. No meu íntimo, morria de pânico de ter que partir para uma cirurgia, mas eu também estava consciente de que tudo estava nas mãos de Deus e essa possibilidade era real, embora não pudesse nunca ser considerada um atestado de fracasso.

Às 3 horas da manhã do dia 22 de outubro, dia de São João Paulo II, eu acordo com uma dor forte que “nascia” na lombar e abraçava meu ventre. Era diferente. Doía forte, mas parece que depois minha carne relaxava. Logo em seguida, quando veio a segunda, eu já estava de quatro em cima da cama acordando meu marido.

Logo percebemos que eram contrações. E que emoção em sentir uma contração! Rsrs

Por mais louco que pudesse parecer, eu estava muito, muito feliz em sentir aquilo. Eu desejei aquela dor, eu quis viver aquilo. Só de lembrar, me emociono. Escapou, então, o louvor. Eu louvei a Deus pela dor. Pela contração que faria meu filho nascer, pelo trabalho de parto que estimulava (e vice-versa) os hormônios mais perfeitos que nos transformariam de corpo e alma para receber a Obra Nova. Começamos a contar!

Enquanto isso, na terceira ou quarta contração, fui ao banheiro e vi fragmentos do tampão mucoso.

Meu Deus, que alegria! É sangue e muco. É o Tomé chegando!

Ali mesmo, sentada ao sanitário, abracei meu marido e vibramos na mesma alegria: é a hora!

A contagem das contratações era regular e com intervalos de 2 minutos entre elas.

Estávamos tranquilos, nós sabíamos o que estava acontecendo.

Camilo ligou para o médico que nos orientou e também para a nossa doula.

O plano era passar o máximo de tempo possível em casa, mas tudo indicava que as coisas evoluiriam bem e, digamos, rápido. Na maternidade havia uma sala de parto humanizada, com banheira, bola, silêncio, sem ar condicionado.

 Antes de ir para lá, tomei banho tranquila, sentada na bola. E feliz! Nunca antes uma dor havia me trazido, até aquele momento, tanto gozo! Terminamos de arrumar as coisas, peguei mel, rapadura, o terço e meus pertences.

Chegamos à maternidade quase 5 da manhã. E as contrações no mesmo ritmo. E cada vez mais dolorosas. Eu só me lembrava de Jesus na cruz, de Nossa Senhora, do Moysés Azevedo, quando ele diz que o louvor nunca deve sair dos nossos lábios!

Quando a contração me visitava, era como se eu saísse desse mundo: onde eu estivesse, me agachava e agradecia a Deus. De dois em dois incansáveis minutos. A fase latente passou e já chegamos na maternidade com 4 cm… Quase 5. Nossa doula já estava lá nos esperando.

Depois da avaliação, eu já sabia que ficaria ali mesmo. Tomamos café. Nos intervalos das contrações era possível conversar, sorrir, rezar. Um detalhe importante: em nosso plano de parto – que era conhecido por nosso núcleo familiar – combinamos que só avisaríamos quando já estivéssemos lá, em fase ativa. E que o trabalho de parto seria assistido pela doula e pelo pai, além do médico, que só aparecia nos momentos oportunos. Foi ótimo. Passei a maior parte do tempo só com o Camilo e com a Rosa.

Sobre a dor… Era uma dor que me amolecia, doía muito e ficava sempre mais forte.

Comi muita rapadura, bebi água, comi frutas. Fui amada pelo meu marido, muito amada.

Meu sonho romântico de parto era que o Tomé nascesse na água. Mas, como nem tudo é lindo e cintilante como em nossos sonhos, o período expulsivo foi chegando e eu fui virando bicho. Não suportava a água quente.

 A Partolândia

A partolândia chegou! Aquele medo latente veio com toda força e eu achei realmente que iria morrer e que não conseguiria fazer a tal força. E que o Tomé não fosse nascer. Nessa hora, foi fundamental a coragem do meu marido em se manter sóbrio, segurar a minha mão e (tentar, rs) me fazer acreditar que o trabalho de parto estava caminhando. Na minha cabeça, tudo estava parado e a culpa era minha.

Foi uma sensação muito doida. Camilo cantou pra mim as palavras de Santa Teresa: “Nada perturbe o teu coração. Nada te espante, não. Pois tudo passará, só Deus não mudará. Só Ele ficará, Ele nos bastará. A paciência tudo alcança, quem a Deus tem, nada lhe faltará. Fora de Deus tudo é vão. Só Ele é e basta”.

E foi assim que continuamos…

Hoje eu coloco diante de Deus o que senti naquele momento de desespero e percebo o quanto ainda me cobro diante da vida. Enfim… Isso é papo pra outra esfera.

Eu pedi anestesia (graças a Deus não rolou), chorei, fui indelicada com o obstetra (que é um poço de paciência e cortesia).

Os 10 cm já estavam ali. A vontade de fazer a força também. Doeu.

Eu fiz cocô, xixi, quis vomitar. Fui pobre, não tinha mais como voltar atrás e eu não queria. Meu filho estava perto. Pertinho. O pai dele estava ali comigo, havia amor, esperança, havia confiança. Deus estava conosco e entre nós. Uma nova criatura estava prestes a nascer e era o meu filho, o fruto da Ressurreição de Cristo em nossa vida, o Tomé.

Doeu, gente. Mas foi a dor mais fecunda e feliz que eu já pude sentir e viver. Foi o início.

Aquela sensação de morte se confirmou. Eu, de fato, morri. Morri e nasci de novo. Nasci ali naquela banqueta, parindo aos berros e chamando o meu filhinho. Nasci ali, sendo abraçada pelo homem com quem decidi caminhar para o céu no matrimônio. Nasci ali, junto com o Tomé, sob os cuidados de São João Paulo II.

Quando o vi em meus braços, chorando (gritando!), tão pequeno e ao mesmo tempo tão bravo, tão inocente e tão protagonista, eu não consigo me lembrar do que estava acontecendo ao meu redor. Eu não sentia mais dor, eu só o sentia, apenas.

Era eu, o Camilo e o Tomé. Era Deus entre nós. Era mais um passo em nosso caminho de construir nossa pequena civilização do amor. Eu via ali, naquele bebê miudinho uma extensão de mim, mas, por mais dependente que seja, o vi portador de uma autonomia indescritível.

É o milagre da vida! Era um terceiro, o primeiro da geração Sales Bessoni. Era o amor novo brotando dentro de mim. Se ali mesmo Deus me desse a oportunidade de morrer, morreria por ele e morreria feliz.

E para quem me chamou de louca por desejar viver essa dor, livre de intervenções e atalhos, eu digo: quero de novo!

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