Da cesárea ao parto natural humanizado – parte I

Da cesárea ao parto natural humanizado – parte I

Para vocês entenderem melhor meu relato de parto, achei melhor começar contando quem eu era antes dele. Por isso, essa primeira parte é para contar sobre minha vida antes do parto. E no próximo post, farei o relato do parto.

Primeiramente, eu já era mãe de um lindo menino que nasceu fruto de uma cesárea eletiva muito desejada. Sim, eu desejei ter meu primeiro filho de cesárea desde antes dele ser um feto. Não, eu não faço parte do grupo de mulheres que acha que a tecnologia está aí para ser usada. Também não tinha medo da dor do parto, pois já tinha passado por muitas dores físicas nesta vida. Porém, a dor de perder o controle e a previsibilidade dos acontecimentos isso sim sempre me afetou muito. Não saber o “quando” e o “por quanto” tempo sempre me assustou muito e em se tratando de primeiro filho, me aterrorizava mesmo. Junto com tudo isso morava a mais de 1000km da minha família e não concebia a ideia de ter meu filho sem minha mãe por perto para me amparar e ajudar nos primeiros dias. Por tudo isso, não me arrependo da escolha. Foi a adequada e conveniente para a maturidade e conhecimento que eu tinha à época.

Além de mãe, sou psicóloga e, depois do nascimento de Davi, comecei a escrever sobre assuntos maternos (inclusive para o Mamãe na Rede) e cada vez me aproximar mais de pessoas ligadas à humanização do parto. Eu sempre soube deste movimento, mas antes, pela confiança de que a minha decisão anterior foi muito ponderada e individualizada nunca me atrevi a entender o que o movimento tanto buscava. Mas sempre escutava muitas indagações e opiniões adversas das ativistas principalmente quando o assunto era o porquê de ter tido uma cesárea agendada. Sinceramente, a forma incisiva que muitas ativistas abordam as mulheres faz com que muitas destas não tenham muito interesse em entender porque tanto se discute parto normal x cesárea. Mesmo eu, que nunca achei que cesárea era a melhor forma de nascimento e sempre admirei o parto normal, me afastava da temática pela forma rígida como eu sempre era abordada.

Mas, voltando à gestação do meu segundo filho… Foi no anivesário de 1 ano do mais velho que descobrimos que a família aumentaria. E aí começamos a procura por um obstetra do plano de saúde. Já não morava mais no mesmo estado que meu mais velho tinha nascido, então, era tudo novo de novo. Após 1 ano de mãe uma coisa eu já havia aprendido (ou pelo menos achava que tinha aprendido): esperar a hora que o bebê realmente quer nascer era muito importante. Na época, o que me fez chegar a esta conclusão foram as dificuldades que tive com meu mais velho com relação à amamentação. Meu filho não mamou nas primeiras horas de vida, nasceu muito sonolento e só o coloquei no peito após umas 5 horas de nascido e isso porque pedi para meu esposo me ajudar, pois nenhuma enfermeira se prontificou a me ajudar (e eu até recentemente nunca tinha me tocado de que tinha sido “vítima” do sistema obstétrico nacional). As semanas seguintes ao nascimento dele também foram assim e ele só perdia peso. Depois de 15 dias de nascido e eu batalhando para continuar na amamentação exclusiva, decidimos complementar como a pediatra tanto pedia. Pronto, nunca mais largou a mamadeira. Já o peito foi deixado de lado aos 5 meses de vida. Determinada a escrever uma história diferente com meu caçula, decidi que eu entraria em trabalho de parto desta vez e aí sim faria uma cesárea.

Cheguei com este meu plano a vários obstetras e todos eles foram categóricos em afirmar que eu não podia entrar em trabalho de parto e muito menos parir sob o risco ENORME de ter uma ruptura uterina, já que tinha uma cesárea anterior e ela ainda era recente. Teria que ser uma cesárea eletiva novamente. Após escutar algumas vezes a mesma história me conformei com este fim, mas isso ainda estava longe do fim. Com 4 meses de gestação, voltei a procurar obstetras, pois tinha recebido um diagnóstico “errado” de placenta prévia e após conversar com várias pessoas ligadas à humanização (inclusive com aquela que seria minha doula), decidi colocar em pauta novamente entrar em trabalho de parto, mas persistia querendo uma cesárea. Achei, enfim, um obstetra que a princípio concordou que eu poderia entrar em trabalho de parto.

Em paralelo, me indicaram entrar em uma turma de Yoga para Gestantes (mais uma vez aquela que estava me guiando rumo à informação segura, a minha amiga doula) e lá fui eu já com 5 meses de gestação. Chegando lá, encontrei um monte de mulheres verdadeiramente empoderadas em parir naturalmente, algumas em casa, outras no hospital e ainda algumas numa tal de casa de parto (não fazia ideia que isso existia no Brasil e ainda pelo SUS). Fiquei caladinha na minha, achei melhor não expor que faria uma cesárea, até porque eu nunca tive nada contra parto normal, só não me achava capacitada psicologicamente para isso. Foi então que um dia a turma se organizava para assistir todas juntas ao documentário “O Renascimento do Parto” e eu soltei a seguinte frase: “Ah, quero ver sim, mas posso fechar os olhos nas cenas de parto?”

Pausa para os olhares assustados que eu recebi…

Cara de susto

Me entreguei sem perceber e, logicamente, todas concluíram que meu primeiro filho tinha nascido de cesárea e o próximo também seria assim. Felizmente, como todo relacionamento saudável, ninguém me julgou, aceitaram minha falta de informação e acredito que pensaram: “essa aí precisa mesmo assistir ao documentário.”

Quando estava na 35º semana fui para minha consulta do pré-natal e para minha surpresa o doutor tocou no assunto do parto. Ainda não comentei com vocês, mas minha DPP (Data Provável do Parto) era no meio de dois feriados seguidos e ainda no meio da Copa do Mundo do Brasil, sendo que moro em uma cidade-sede. O doutor provavelmente já querendo programar o feriado dele e faltando ainda um mês para a DPP, já começou com aquela famosa “conversinha” para o agendamento da cesárea. Eu fiquei muito chateada de ter sido pressionada daquela forma, porque primeiro ele voltou atrás de algo que já havíamos combinado e, segundo, porque ele tentou utilizar de argumentos que eu sabia não serem reais, incluindo o fator hormonal do trabalho de parto não ser importante para a amamentação. Mas o que me deixou mais indignada foi escutar a seguinte frase: “Eu sinto pena que você queira sentir dor”. Saí dessa consulta muito estressada e perdida, pois sabia que se continuasse com aquele médico, eu não conseguiria aguardar o trabalho de parto, mas, ao mesmo tempo, estava já no fim da gestação. Como achar um obstetra que me deixasse aguardar a hora do meu filho?

 Não por acaso (realmente acho que teve um dedinho de Deus aí), no dia seguinte, era o encontro com as meninas do yoga para assistirmos ao documentário e é claro que tudo aquilo ali passou a ter um sentido enorme para mim. Foi como se tivesse caído uma cortina que me impedia de ver coisas óbvias, como o fato de o nascimento ser algo fisiológico, devendo ser separados os casos excepcionais, em que realmente exista algum impedimento de parir. Entendendo isso, não tinha porque renegar a natureza e “extrair” cirurgicamente um filho. Contei para elas o que tinha acontecido no dia anterior e recebi muito apoio para promover uma mudança em minha vida. Cheguei em casa disposta a tirar essa mesma cortina dos olhos do meu esposo e, no mesmo dia, assisti novamente ao documentário – agora com ele. E para minha surpresa, aquele homem que desmaiou ao me ver sendo suturada na cabeça e que todos desconfiamos que mal aguentaria ficar comigo na cesárea do Davi, assistiu a todo o filme e já nos 10 primeiros minutos me disse: “Precisamos fazer algo para mudar o nascimento de Lucas!”

E foi assim que uma cesárea virou um parto natural humanizado na 35º semana de gestação. Fui acolhida por uma das obstetras que dedica-se a fazer diferença neste cenário. Me conformei que não conseguiria este tipo de parto pago pelo plano de saúde, mas decidimos que este seria o melhor investimento feito em nome de nosso filho. Corri atrás de estudar e assistir a todos os partos possíveis (sim, eu perdi o medo de ver parto). Liguei para aquela minha querida amiga doula que tanto guiou meus passos para este caminho e logicamente a chamei para nos acompanhar nesta nova aventura. Fui a rodas de conversa destinadas a esclarecer dúvidas e tive a grata surpresa de ver as obstetras da cidade também participando. E também procurei apoio nas amigas que de algum modo conheciam esta realidade paralela (doulas; mães que pariram; mães que quiseram parir, mas foram engolidas pelo sistema). O meu muito obrigada a todas vocês!

Essa foi a nossa caminhada até chegar ao parto de Lucas. Então lhes digo duas coisas:

– Se você QUER ter um parto natural humanizado, saiba que terá que lutar por isso. Estudo e pesquisa são fundamentais para não ser “engolida” pelo sistema.  Participar de uma roda de apoio ao parto humanizado te ajudará a encontrar quais os profissionais que realmente lhe ajudarão neste objetivo.

– Agora, se você apenas GOSTARIA de ter um parto natural humanizado, tenho de lhe contar que é preciso mais. É preciso querer verdadeiramente! Do contrário, o máximo que você poderá conseguir é um parto normal, infelizmente repleto de intervenções desnecessárias!

Estou à disposição para ajudá-las no que for possível! Até a parte II do relato, mamães!

Bianca

Psicóloga, especializada em coaching e mãe do Davi que nasceu em outubro de 2012.

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